sexta-feira, 8 de junho de 2012

Flávio Ramos

Flávio da Silva Ramos nasceu em 14 de Abril de 1889 no Rio de Janeiro e faleceu a 14 de Setembro de 1967 na mesma cidade, tendo sido o idealizador e um dos fundadores do antigo Botafogo Football Club, atual Botafogo de Futebol e Regatas.

O clube nasceu de um sonho de rapazes do Largo dos Leões, onde ficava o Colégio Alfredo Gomes. Durante a aula de matemática do 4º ano do professor Júlio Noronha, Flávio Ramos, então com 15 anos, escreveu e entregou um bilhete a Emmanuel Sodré dizendo:

“O Itamar Tavares tem um clube de futebol que joga na rua Martins Ferreira. Vamos fundar outro? Podemos falar com o Arthur César, o Vicente e os irmãos Werneck. O que você acha?”
Emmanuel não respondeu logo, mas entusiasmou-se e estava dado o primeiro passo para o nascimento do Glorioso. Nessa noite, Flávio Ramos encontrou-se com Octavio Werneck, na Rua Voluntários da Pátria e disse-lhe:

“Seu Werneck, vamos fundar um clube de futebol; contamos contigo e com o Alvaro.” – “Comigo vocês podem contar na certa, disse Octavio, mas com o Alvaro, não sei; parece-me que ele está formando um outro clube com o Itamar Tavares, o Viveiros de Castro e outros; o campo é na rua Honorina e o nome é Ideal.” – “Isso não é sério, Seu Octávio; você tem que ‘cavar’ o Alvaro.” – “Pois sim, eu ‘cavo’”. E ‘cavou’ mesmo.” [Trecho de “O Paiz”, de 1923-08-12, citado por Alceu Mendes de Oliveira Castro]

Na tarde de sexta-feira de 12 de Agosto de 1904, o clube foi fundado para a prática do futebol por um grupo de garotos entre os 14 e os 15 anos, que se reuniu no chalé de um velho casarão que fazia esquina da rua Humaitá com o Largo dos Leões, cedido por D. Chiquitota, avó de Flávio, grande amiga e verdadeira mãe do clube que por sua sugestão se designou Botafogo.

Decidido o nome, foi escolhido e aclamado por unanimidade o uniforme, que recaiu sobre as listas verticais pretas e brancas, após sugestão de Itamar Tavares, que estudara em Itália e torcia pela Juventus, cujas cores eram precisamente o preto e o branco. As primeiras camisas oficiais foram feitas pela firma inglesa Benetfink & Co. Ltd.; o escudo de 1904 do Botafogo Football Club foi desenhado a nanquim por um de seus fundadores, Basílio Viana Júnior; a primeira bandeira do Botafogo Football Club foi bordada por Ruth, Hilda, May, Leah e Miriam, irmãs de Edwin Hime, que em 1908 seria Presidente do Botafogo.

Flávio foi o sócio fundador nº1, acompanhado de Alvaro Cordeiro da Rocha Werneck, Arthur César de Andrade “Tutú”, Augusto Paranhos Fontenelle “Zingo”, Basílio Vianna Júnior, Carlos Bastos Neto, Emmanuel de Almeida Sodré, Eurico Parga Viveiros de Castro, Flávio da Silva Ramos, Jacques Raymundo Ferreira da Silva, Lourival Camargo da Costa, Octávio Cordeiro da Rocha Werneck e Vicente Licínio Cardoso.


Flávio Ramos (1889 - 1967)

Flávio tornou-se também o primeiro presidente do clube, em 1904, e foi jogador desde o primeiro jogo, atuando como goleiro, mas passando logo para atacante. A primeira vitória do Botafogo por 1x0 sobre o Petropolitano Football Club, a 21 de Maio de 1905, consagrou o primeiro gol do alvinegro, e também de Flávio Ramos, já como atacante.

Flávio foi um centroavante com notável finalização. Na maior goleada do futebol brasileiro, registada a 30 de Maio de 1909, quando o Botafogo bateu o Mangueira por 24x0 no campo alvinegro da Voluntários da Pátria, o sócio nº 1 do alvinegro assinalou sete gols. A equipa desse encontro histórico cujos goleadores foram: Gilbert Hime (9), Flávio (7), Lulu (2), Monk (2), Raul (1), Dinorah (1), Henrique (1), e Emanuel (1).

Gilbert Hime deteve, por várias décadas, o recorde absoluto de gols num jogo oficial, somente batido por Dadá Maravilha em 1976 quando este rubricou 10 gols numa única partida.
Flávio e os rapazes da fundação também passaram galhardamente pelas dificuldades de uma forma inusitada. Em 1911, campeão carioca já apelidado com o título de Glorioso, o Botafogo era uma das melhores equipas do país, mas na terceira rodada do campeonato carioca de 1911 Botafogo e América defrontaram-se e as coisas não correram bem. O alvinegro era o líder, o jogo estava empatado em 1x1 e, entretanto, Flávio Ramos sofreu uma violenta falta de Gabriel de Carvalho. Abelardo Delamare foi defender Flávio e a discussão transformou-se numa briga generalizada.

O Presidente Alberto Cruz Santos e os demais dirigentes solidarizaram-se com os jogadores e enviaram ofício à Liga, solicitando o desligamento. A entidade puniu Abelardo com um ano e Gabriel por apenas 30 dias de suspensão, aceitou o pedido de desfiliação e informou o clube que, caso quisesse regressar, o atleta teria de cumprir a punição. A assembleia-geral do clube ratificou a decisão tomada, o que fez o Botafogo viver uma de suas piores fases da sua existência, regressando apenas em 1913 depois de “jogar na pedreira”. Numa crónica, anos depois, o jornalista Mário Filho deu a sua opinião:

"Isolando-se em 1911, o Botafogo ficou mais Botafogo. Quem era Botafogo, compreendeu por que era Botafogo, ficou sabendo por que não podia ser de nenhum outro clube. Eis o que dá ao Botafogo uma fisionomia própria e única". ‘O Clube da Capa e Espada’, o D'Artagnan do Século XX, que sacrificou a possibilidade de conquistar o seu primeiro bicampeonato para ficar ao lado de um de seus soldados.”

Time do Botafogo em 1907

O "clube dos rapazes" definia, naquele acto, a história futura do Botafogo, uma história com "coluna vertebral" recheada de conquistas e alegrias, mas também de dramas e tragédias, que haviam começado ainda nas regatas com a morte prematura de Luiz Caldas e os anos mágicos do remo botafoguense. Os acontecimentos inusitados seguiram-se com a "Tragédia da Piedade", em 1909 – com a morte do escritor Euclides da Cunha e a invalidez e morte do botafoguense Dinorah –, a notável conquista do campeonato carioca de 1910, o abandono da liga de futebol em 1911.

Entre conquistas notáveis e dramas inesperados, Flávio mostrou ser a alma do Botafogo ao mais elevado nível de ética e desportivismo. Desportista impecável, mesmo depois de abandonar o futebol, Flávio manteve as características pessoais que o notabilizaram. Na década de 1930, quando assistia a uma partida entre o Botafogo e o América, o atacante alvinegro Álvaro fez uma falta violentíssima num jogador do América. Flávio levantou-se da arquibancada e gritou para o juiz expulsar o jogador do Botafogo. Álvaro não gostou, baixou as calças em protesto e Flávio entrou em campo e deu-lhe uma estrondosa bofetada.

Durante a sua carreira, no período de 1904 a 1913, Flávio Ramos fez 60 gols em 53 jogos, registando uma notável média de 0,88 gols por jogo. Foi campeão carioca em 1907 e 1910 e artilheiro estadual consecutivo em 1907 (6 gols), 1908 (7 gols) e 1909 (18 gols). Ainda praticou remo, atletismo e patinação.

Flávio da Silva Ramos faleceu a 14 de Setembro de 1967, aos 78 anos, na sua cidade natal, depois de ter a felicidade de acompanhar as carreiras de Garrincha, Nilton Santos e toda a plêiade de futebolistas botafoguenses que marcaram as linhas avançadas do ‘escrete canarinho’ em 1958, 1962 e 1970 na conquista do tri-campeonato mundial.

Nome completo: Flávio da Silva Ramos
Nascimento: 14 de Abril de 1889
Nacionalidade: Brasileiro
Naturalidade: Rio de Janeiro (RJ)

Passagem pelo clube: 1904 a 1913
Títulos: Campeão carioca em 1907 e 1910
Jogos: 53
Gols: 60

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